sexta-feira, 13 de março de 2009

Carta de uma mãe alentejana



> Mê querido filho,
>
> Ponho-te estas poucas linhas que é para saberes que tôu viva.
>
> Escrevo devagar porque sei que não gostas de ler depressa. Se receberes esta
> carta, é porque chegou. Se ela não chegar, avisa-me que eu mando outra.
>
> O tê pai leu no jornal que a maioria dos acidentes ocorrem a 1 km de casa.
> Por isso, mudámo-nos pra mais longe.
>
> Sobre o casaco que querias, o tê tio disse que seria muito caro mandar-to
> pelo correio por causa dos botões de ferro que pesam muito. Assim, arranquei
> os botões e meti-os no bolso. Quando chegar aí prega-os de novo.
>
> No outro dia, houve uma explosão na botija de gás aqui na cozinha. O pai e
> eu fomos atirados pelo ar e caímos fora de casa. Que emoção: foi a primeira
> vez em muitos anos que o tê pai e eu saímos juntos.
>
> Sobre o nosso cão, o Joli, anteontem foi atropelado e tiveram de lhe cortar
> o rabo, por isso toma cuidado quando atravessares a rua.
>
> Na semana passada, o médico veio visitar-me e colocou na minha boca um tubo
> de vidro. Disse para ficar com ele por duas horas sem falar. O tê Pai
> ofereceu-se para comprar o tubo.
>
> Tua irmã Maria vai ser mãe, mas ainda não sabemos se é menino ou menina.
> Portanto, nã sei se vais ser tio ou tia.
>
> O tê mano Antóino deu-me hoje muito trabalho. Fechou o carro e deixou as
> chaves lá dentro. Tive de ir a casa, pegar a suplente para a abrir. Por
> sorte, cheguei antes de começar a chuva, pois a capota estava em baixo.
>
> Se vires a Dona Esmeralda, diz-lhe que mando lembranças. Se nã a vires, nã
> digas nada.
>
>
> Tua Mãe Mariana
>
>
>
> PS: Era para te mandar os 100 euros que me pediste, mas quando me lembrei já
> tinha fechado o envelope.
>
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